sexta-feira, 17 de setembro de 2021

ENTENDA A DEPENDÊNCIA QUÍMICA E O TRATAMENTO

É preciso ter empatia sobre o adoecimento mental.

É preciso quebrar paradigmas frente à dependência química..

É preciso construir novos olhares.. 

Antes de falarmos sobre tratamento em dependência química precisamos compreendê-la.

Dependência química é a relação que o sujeito tem com as drogas e a maneira como ele consome a substância (álcool, tabaco, drogas), independente de ser lícita ou ilícita. Pela organização mundial da saúde, a dependência química é uma doença crônica, caracterizada por alterações físicas e mentais que o uso ou abuso de substâncias causam no sujeito.

Não existe uma única causa que leva o sujeito a se tornar um dependente químico, mas sim uma junção de diversos fatores, tanto sociais, mentais e até hereditários.

Antes de falarmos sobre o processo de tratamento, faz se necessário mensurar que a fase inicial dele, se inicia na ACEITAÇÃO patológica, e chegar nesse patamar tem se um longo caminho a ser enfrentado. Para assim posteriormente obter a aceitação de aporte de tratamento de uma equipe especializada.

Mas antes da aceitação pela busca do tratamento, o que por vezes pode não ocorrer, o que auxilia também na não efetividade por essa busca é o tabu que a doença mental ainda é vivenciada nos dias atuais, mesmo com todos os avanços já conquistados. Infelizmente ainda se é estigmatizado e banalizado o adoecimento mental. Muitos sujeitos ainda tem dificuldade de buscar aporte de serviços de especialidade devido ao pré-conceito que sofrem como outros pelo negacionismo patológico.

A busca pelo tratamento nem sempre vem através do próprio sujeito em sofrimento, mas por muitas vezes pela família que já se encontra em quadro de coodependência patológica, no qual também necessita ser assistida.

Existem duas formas de tratamento: ambulatorial e internação hospitalar (voluntária, involuntária e judicial) em leitos de especialidade, que é o que compõe nosso trabalho na Unidade de Saúde Mental do Hospital de Caridade de Crissiumal.

Uma vez dependente químico, sempre dependente, indiferente de estar ou não em recuperação, usando ou não usando algum tipo de substância. Não há cura para a dependência, existe sim tratamento com êxito, contínuo e permanente.

A dependência química é uma doença que não atinge apenas o sujeito, mas sim toda família, pelas literaturas qualquer tipo de comportamento toxicomaníaco tem uma incidência sobre aqueles que rodeiam a pessoa em causa e, sobretudo, sobre a sua família, tornando a coo-dependente do problema. O convívio com o dependente faz com que os familiares adoeçam emocionalmente, sendo necessário que o familiar também se trate, e, ao mesmo tempo, receba orientações a respeito de como lidar com o dependente, como lidar com seus sentimentos em relação ao mesmo.


Também considerada como uma doença psicológica, tendo a sensação de satisfação e um impulso psíquico provocado pelo uso da droga que faz com que o indivíduo a tome continuamente, para permanecer satisfeito e evitar mal estar, ou seja, quando o consumo repetido cria o invencível desejo de usá-lo pela satisfação que produz.

O principal objetivo do tratamento é ajudar o mesmo a compreender sua motivação para o uso da substância, bem como sua motivação para a abstinência da mesma substância. Ou seja, ajudá-lo a lidar com o conflito entre usar e não usar.

A maioria dos usuários de substâncias psicoativas tem nelas, além de prazer, a "solução" para algum problema com o qual não tem sabido lidar de outra maneira. Usar substância nesse caso é uma boa forma de aliviar angústia e ansiedade. Nesse caso, o "alívio" é um importante fator motivacional para o uso, apesar do reconhecimento, pelo próprio paciente, de que esse mesmo uso traz problemas, relacionados a saúde física, emocional,  as relações familiares,  e situações financeiros.

O tratamento permitirá ao indivíduo lidar com os sintomas de abstinência, que poderão estar mais amenos em conduta de processo de desintoxicação. Também devo aferir sobre o processo de tratamento psicológico da dependência química que visa mostrar ao paciente que ele possui em si próprio meios de enfrentamento de situações desconfortáveis sem a utilização de drogas. Como já foi dito, os aspectos psicossociais exercem um papel muito importante na manutenção da doença, pois passados os sintomas de abstinência, são eles que permanecem. Assim, o acompanhamento de um psicólogo é de extrema relevância para o tratamento da dependência química, pois mais importante do que a abstenção das substâncias que causaram a dependência, é manter o indivíduo afastado das drogas, que será um desafio constante na vida do sujeito.

Interromper o comportamento de beber, nesse caso, resolve parte do problema, pois a ansiedade e angústia continuarão existindo após a sobriedade. Assim, num primeiro momento, o tratamento com uma equipe multidisciplinar, deve ajudar o sujeito a entender porque usa álcool ou drogas. Uma vez compreendida a função da droga na vida daquele sujeito, é preciso ajudá-lo a desenvolver habilidades para enfrentamento dessas situações sem a droga, com psicoterapia contínua. Há casos em que pacientes não vem apenas com a questão da dependência química, mas trazem consigo, em seu perfil psicológico outras comorbidades (depressivos, bipolares, esquizofrênicos),nas quais também são trabalhadas.

 Durante o período de internação do sujeito em unidade de especialidade, a equipe multidisciplinar (psicólogo, assistente social, enfermeira, médico psiquiatra, educador físico, nutricionista) elaboram um planto terapêutico individual a cada sujeito, a família é inclusa nesse processo de conduta. A dependência de uma substância pode ser a mesma, porém o desajuste emocional não, por isso se faz de extrema necessidade olhar ao sujeito em adoecimento em sua singularidade.

Permanecer na conduta de tratamento em especialidade não é o bastante é preciso continuar como acima já citado em fala anterior. O acompanhamento continuado é a estratégia mais indicada nos quadros de dependência química. Este pode ser realizado de forma ambulatorial em serviços de suporte como Esf, Caps, AA e também Comunidade Terapêutica. Ressalvo que a continuidade do tratamento aos serviços é avaliada pela equipe dentro do plano de atendimento bem como do perfil e quadro de adoecimento do sujeito.

Importante ressaltar que apenas os profissionais capacitados podem definir a sua alta, o perigo na dependência química é essa, a alta que o próprio sujeito se dá quando percebe que encontra-se estável e não prevê a recaída, no qual também faz parte do processo de adoecimento.

  Texto: Scheila Francieli Kruger - Psicóloga - Hospital de Caridade Crissiumal

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